Os Domingues - Parte 4

Mirian acordou, depois de muito chorar e escutar músicas até seu celular descarregar ela dormiu no carro, olhou a hora e percebeu que sua mãe estava no bar a noite toda. (Não sabia como, pois o bar não era aberto vinte quatro horas, mas preferia pensar nisso do que sua mãe a esquecendo também). Ela correu até o bar, que já estava aberto novamente, afinal ela acordou as onze da manhã, saiu a procura de Vera, primeiro olhou em volta do bar, depois nos banheiros, então ela abriu uma porta e encontrou alguém dormindo de cara para o vaso sanitário.

- Marcos?! - Disse ela espantada.
- Hãn? Já tá na hora? Só mais cinco minutos... Aqui está fedendo tanto... - Marcos percebeu o cheiro estranho e acordou imediatamente, afastando o rosto do vaso. - Ah meu Deus! Que nojo! Já te chamaram de merda muitas vezes mas dormir no vaso é palhaçada, né Marcos! - Começou a falar sozinho enquanto tentava se limpar, ao mesmo tempo que percebia que isso não adiantava de nada e enfim percebeu a sua irmã com uma cara de incredulidade misturada com nojo e espanto. - Mirian? Mirian! Que bom que eu te achei!
- O que você estava fazendo aqui? Me dá uma justificativa decente antes que eu pense que você enlouqueceu de vez. - Mirian falava enquanto se afastava do abraço caloroso (só que não) do irmão.
- Eu estava passando mal, vim para o banheiro e acabei dormindo aqui... É que o Júlio me trouxe e... Espera! Cadê o Júlio? E o que você está fazendo aqui também? - Marcos ficou confuso, mais do que já estava,  enquanto pensava sobre o que aconteceu até ele estar ali no banheiro com sua irmã.
- Eu lá sei quem diabos é Júlio, eu vim atrás da mamãe! Ela entrou nesse bar para beber um pouco, eu fiquei  no carro, dormi e ela sumiu. Não deve ter ido a nenhum canto longe porque ela não levou o carro, mas para onde ela foi?

Os dois ficaram pensando onde seus respectivos companheiros de viagem estavam, depois de um tempo perceberam o quão ridículo era estar no banheiro e foram pensar fora do bar.

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Vera acordou com uma dor de cabeça enorme, sem lembrar de nada da noite anterior, passou um bom tempo de olhos fechados pensando na torturante sensação que teria quando os abrisse, até que aos poucos foi os abrindo.

- Mirian querida, para onde você me trouxe? Acredita que eu não lembro de nada de ontem? Olha, estou até mais calma, a bebida fez milagres!
- E um pouco de sexo também, quer dizer só modo de expressão, porque nós não fizemos pouco! - Disse uma voz que Vera já havia escutado em algum lugar mas não lembrava onde.

Ela se levantou assustada, arregalou os olhos para aquele homem estranho e nu que estava ao seu lado, puxou o lençol para si e foi para um canto da parede.

- Se escondendo por que coração? Não há nada ai que eu já não tenha visto até decorar. - O homem deitado muito confortavelmente falou rindo levemente.
- Quem é você?! Onde estamos?! Por que diabos você não veste um lençol?! Onde está a Mirian?! - Vera ainda assustada e sem entender a situação se afastava cada vez mais, nunca tinha feito aquilo na vida e ficava analisando o espaço a sua volta. (Não beber e transar com caras estranhos e sim ir para casa deles e não lembrar dos mesmos, embora achasse tudo naquele homem familiar).
- Quando eu te encontrei no bar você estava sozinha, então não sei nada de Mirian. Bem, estamos na minha casa e eu me chamo Júlio, como tinha dito ontem. - Júlio estava calmo, provavelmente já tinha passado por aquilo varias vezes, afinal seu porte físico não era dos mais agradáveis então estava acostumado a pegar bêbadas. - Mas não se preocupe, não fizemos nada exagerado ou incomum, só o de sempre e...
- Cala a boca! Espera um pouco... - Disse ela se aproximando e olhando pela janela. - Essa casa é sua, não é? Mas eu reconheço um pouco esse quarto, também reconheço essa vizinhança... Caralho! Essa é a casa do meu ex-marido! - Ela não conseguia acreditar no que havia dito, mas cada vez tinha mais certeza disso.
- O que?! Como assim?! Eer... Não sei do que você está falando... e-eu c-comprei essa ca-casa a pouco tempo... - Desta vez Júlio que ficou estranhamente confuso, como se algo estivesse errado.
- Cala a merda da boca já disse! Pará de palhaçada e cria vergonha na tua cara! Como eu não percebi isso antes? Júlio é uma ova, você é o Jailson! Eu devia ter imaginado que você faria cirurgias ou algo do tipo, mas olhando para esse seu corpo de porco de raça não tem erro! - Vera estava convicta da sua afirmação e partia para cima de  Jailson. (Ou Júlio, sei lá! Não vou me confundir nessa macacada)
- Tá tá sou eu sim. Vera meu amor, eu queria te fazer uma surpresa, provar que eu te amo! Por isso não disse logo quem eu era.
- Grande surpresa ein, uma ordem de despejo por não pagamento da casa! E me poupe, você não disse porque pensou que ia me enganar!
- Essa desculpa não vai colar então né? - Jailson falou meio desconsolado.
- Não!
- Pois bem, vamos resolver as coisas. Eu pago a casa, mas volto a morar com vocês!
- O quê?!

Vera ficou surpresa, mais do que já estava, (Quem sabe ela infarta e essa história acaba! Ah, sonho distante desse narrador...) e Jailson estava com um certo ar de que era isso ou nada. Enquanto isso, não muito longe dali Marcos e Mirian pensavam em como encontrar a mãe, até que por fim entraram no carro e seguiram o GPS que já estava traçado, mas como nem tudo é fácil nessa vida, a gasolina acabou e os dois sem dinheiro tiveram que empurrar o carro para um canto e seguir a pé...
    



Os Domingues - Compiliação



Os Domingues viviam bem, Vera, Mirian e Marcus iam levando suas vidas de mãe, filha e filho respectivamente, até que algo envolvendo o patriarca da família os fez ir atrás dele...

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Parte 4

Suzana & Canã - Compilação



Um dia Canã esbarrou em Suzana, nada demais pois acontece o tempo todo. Só que eles se conheciam, e tinham uma história a resolver...


Parte 1

Parte 2

Parte 3

Parte 4

Os Domingues - Parte 3

- É mesmo? E dai? - Marcos falou com um certo desprezo.
- Calma rapaz, só estava tentando iniciar uma conversa! - Disse rindo o simpático senhor.
- Por que? - Ainda contrariado com aquilo Marcos perguntou.
- Porque você parece ser um bom rapaz que passou por um dia ruim, porque eu gosto de conversar e porque eu me vejo em você. Prazer, Júlio Daniel e você?

Marcos pensou um pouco, analisou aquele homem que apareceu (Não que valesse alguma coisa, ele só achou que se ficasse olhando fixamente para o homem e fizesse cara de quem está pensando iria impressiona-lo com sua inteligência superior) e enfim disse: 

- Marcos Domingues, moro em alguma rua perto daqui, na verdade eu me perdi no caminho de casa e esqueci o nome da minha rua, alias em que cidade estamos?
O homem riu (Pensou que ele estava brincando) e quando parou, ainda soluçando falou:
- Domingues ein... interessante! Mas diga Marcos, como você veio parar aqui então?
- Minha mãe me jogou para fora do carro porque eu queria saber sobre o meu pai e disse para eu me virar para ir pra casa. - Marcos falou desolado, parecendo e agindo realmente como uma criança perdida.
-  Pois bem, irei te ajudar a encontrar sua casa, fui com a sua cara Marcos! Você me faz lembrar de quando eu era jovem, acredita que eu só conseguir ir sozinho pra casa com vinte anos?

Os dois se levantaram das cadeiras no balcão, pagaram a conta, saíram da lanchonete conversando,  Júlio sempre rindo e Marcos desconfiado, (Afinal havia acabado de conhecer aquele senhor e já estava andando com ele por ai) até que chegando bem perto do carro de Júlio, Marcos parou e perguntou:

- Espera, e se você for um pedófilo que quer me estuprar e abusar de mim?
- Eu seria um pedófilo muito retardado porque nem querendo dá pra pensar que você é uma criança! Eu vou te levar para um bar rapaz, um pouco de álcool sempre clareia a mente!

Entraram no carro e saíram para o lado oposto da sua casa, que ficava na rua de trás porém a amnésia temporária de Marcos (Ou frescuragem como diria sua mãe) não o fez perceber.

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Mirian chorava sem parar no carro enquanto escutava sua playlist com Adele, Amy Winehouse, Vanessa da Mata, entre outros, pensando no quanto todos (Tomás) deviam estar a achando ridícula, patética e criança, "Porque quem com plenos 15 anos é pega na porta da escola pela mãe?" pensava ela, e ainda teve o vexame do que sua mãe disse. Vera ao perceber o choro incessante de sua filha olhou a e disse com toda doçura de mãe:

- Minha filha, pare com isso. Isso é só um momento, uma experiência a mais para você rir no futuro e outra coisa - Seu tom de voz mudou para o tom de Vera de sempre - Eu já expulsei seu irmão desse carro porque ele estava enchendo o saco, não me faça fazer isso com você também, então engole o choro!
- O Marcos estava aqui? Onde a senhora deixou ele mãe? Esqueceu que ele é cheio de problemas? - Disse Mirian surpresa com a revelação de sua mãe.
- Estava sim, quem sabe agora ele vire homem e não se preocupe eu deixei ele perto de casa.
- Isso e nada é a mesma coisa mãe, o Marcos não sabe nem o caminho até o quarto dele! Ainda falta muito até a casa do papai? - Mirian resolveu mudar de assunto porque percebeu que falar sobre seu irmão não daria muitos resultados nem mudaria a atitude de sua mãe.
- Quase nada para falar a verdade, mas vamos para nesse bar porque eu preciso beber um pouco. Você sempre quis dirigir não é? Hoje é seu dia, Tá-Dán!

Mirian olhou incrédula para Vera, ela estava fora da razão e não percebia isso, Vera estacionou o carro e saiu, Mirian ficou pois preferia chorar ouvindo suas músicas do que entrar num bar estranho com pessoas mais estranhas ainda e bêbadas para piorar.

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Júlio e Marcos já estavam no balcão, dessa vez do bar, eles tinham pedido a bebida mais forte que o lugar tivesse, pois Júlio disse que Marcos tinha que começar com chave de ouro, e ela tinha acabado de chegar. Primeiro o senhor bebeu de uma só virada e depois o jovem bebeu todo numa só virada de copo o imitando, mas isso não deu muito certo e ele começou a se sentir mal, muito mal e correu para o banheiro ao som das risadas de Júlio.

- Não era pra ter feito isso rapaz! Era sua primeira vez, devia ter começado devagar! - Disse rindo.

Marcos respondeu com um cotoco (Responderia com dois se a sua outra mão não estivesse na boca segurando o inevitável) e logo em seguida uma mulher, não muito jovem porém não muito velha, se sentou ao lado de Júlio no balcão, ele a olhou e depois de um tempo falou:

- O que uma mulher tão bonita faz aqui?
- Bebendo eu acho, afinal isso é um bar! Ou mudou e eu não sei? - A mulher estava com cara de pouco amigos.
- Calma, só estava sendo gentil! Posso te pagar uma bebida? - Júlio ficou surpreso como uma mulher tão bonita podia ser tão bruta.
- Talvez, tente.
- Tudo bem, meu nome é Júlio Daniel e o seu?
- Vera Domingues.

A noite ia surgindo e ia passando, eles tomaram alguns drinques, conversaram, ficaram bêbados. Enquanto Marcos vomitava no banheiro e Mirian chorava no carro.   

Suzana & Canã - Parte 4

As lágrimas tinham se transformado em risos, e a discussão em uma conversa bem divertida. Ele falava sobre faculdade de publicidade e ela sobre a de química, sobre como o tempo tinha melhorado os dois (Claro que qualquer pessoa sem espinhas no rosto fica muito melhor, isso é óbvio) e Suzana pensou que tudo enfim tinha ficado bem, do jeito que ela sempre quis. Ela tinha feito tudo o que fez, demorado para falar com ele, escondido tudo porque tinha medo de perde-lo, pois ela o considerava uma daquelas pessoas que todo mundo precisa ter perto para o seu bem, alguém que escuta tudo que você diz, que ri das suas besteiras, um amigo. Canã era ótimo nisso, (Pelo menos era o que diziam naquela época) mas desde o dia em que tudo veio a tona ela tinha perdido esse Canã, só conhecia um Canã que não a olhava e que quando fazia isso era com desprezo, tristeza e não era o único.

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Finalmente chegara a segunda-feira, depois de um fim de semana de espera Suzana veria como seriam as coisas daqui para frente. Canã não havia chegado, "Será que ele vem?" - Pensou ela. Ele chegou, sentou, falou com todos que sempre falava, quer dizer todos menos uma. "Então vai ser assim?" - Pensou novamente. As horas foram se passando dentro daquela sala em que as cadeiras entre eles, com pessoas sentadas nelas ou não, pareciam na verdade um abismo tamanha a distância. Ela percebia olhares, falatórios, sabia que naquela história, fosse qual fosse a versão contada, sairia como a pessoa ruim e insensível.

- Tudo bem, eu aceito isso. Sei o que fiz e não vejo culpa nisso, isso é muito comum e não um bicho de sete cabeças, falar por falar, sempre vai haver motivos para falarem de mim.- Tentava se convencer disso e a frieza de Canã a fazia cada vez mais ligar menos para isso. "Mas e Canã? Com toda essa armadura por cima dele, como será que ele está?" Pensava sobre isso, só que via que não teria respostas então desistia.

Com o tempo eles voltaram a se falar, pouco mas voltaram, de vez em quando mandavam mensagens como nos velhos tempos, escondidos de si mesmos, mas logo que percebiam a situação paravam e voltavam a distância e as conversas monossilábicas sobre dúvidas do colégio que tinham. Os amigos também voltaram a falar com os dois, um de cada vez, pois com os dois juntos sempre rondava um clima estranho que ninguém gostava. Assim eles levaram até que se formaram, até que foram para a faculdade, até que se esbarraram num dia qualquer...

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- Sei que é meio indiscreto, mas quando você terminou com ele? (O nome da pessoa em questão não nos importa, então não será dito) - Canã aproveitou o momento de descontração para fazer essa pergunta.
- Na verdade, eu casei com ele...- Suzana falou de canto de boca, quase sussurando, de forma que Canã se esforçou para escutar.
- Ah! Mas você falou que tinha terminado com ele a tempos... ai eu pensei que... - Disse ele meio desapontado.
- É uma história que não vem ao caso agora, eu tenho uma filha linda quer vê-la? (Para as mães, os filhos sempre são lindos então imagine a filha de Suzana como quiser.)
-  Sério?! Que legal! Se for pelo menos um terço da mãe deve ser linda mesmo!  

Ela riu envergonhada enquanto buscava a foto de sua filha, depois de um tempo achou e mostrou para Canã. 

- Que fofa, tem quantos anos? três, quatro? Tem cara de ser bem sapeca!
- Ela tem três e é bem sapeca mesmo! - Disse rindo - Chega de falar de mim e você? Namorando, casado, enrolado?
- Estou tendo uns negócios ai, um namoro ou algo assim, não sei bem explicar o que é! - riu desengonçadamente.
- Acontece isso as vezes! - Suzana falou rindo escondendo um pouco o desapontamento.
- Sabe, até que foi bom te reencontrar, foi totalmente diferente do que eu pensava!
- Total! Também gostei muito, acho que a gente devia continuar em contato.

Canã concordou com a cabeça e eles deram seus números, "Quem sabe não me ligaria mais tarde?" pensavam os dois, então Suzana acenou para a garçonete pedindo a conta e ela veio com sua alegria de sempre.

- Finalmente vocês vão sair, cansei de ver a cara dos dois aqui, pensei que nunca sairiam! - Disse ela procurando nos papéis a conta.
- Não se preocupe, eu também cansei de ver a sua cara e espero não vê-la mais. - Canã falou, ainda com raiva pelo o que a garçonete tinha lhe falado mais cedo.
- Que é isso vocês dois?! Nada disso, vamos nos ver aqui sim, afinal esse canto vai ficar marcado não é? Pelo menos eu virei aqui muitas vezes! - Suzana disse isso e com isso apaziguou a situação.
- Contanto que vocês não passei três horas aqui de novo... - Disse a garçonete enquanto ia embora com o dinheiro recém adquirido com muito esforço da parte dela em aguentar aqueles dois.

Os dois se levantaram, foram até a entrada do lugar e se viraram um para o outro.

- Então é isso né? Espero te encontrar de novo por ai! - Suzana falou ajeitando a foto de sua filha na bolsa.
- Pois é, e que seja logo de preferência! Até a próxima!

Canã se virou para um lado e Suzana para outro, seguiriam seus determinados caminhos que faziam antes do esbarrão, quem sabe se encontrariam de novo? Afinal ainda haviam coisas a serem ditas, como o fato de Suzana ser viúva, ou de que Canã havia terminado com a namorada e estava irritado naquele dia, por isso tanta agressividade. Talvez ligassem um para o outro, talvez o destino e o acaso dessem uma forcinha novamente, pelo menos era o que eles esperavam...               

Os Domingues - Parte 2

Vera e Marcos correm para o carro, um belíssimo celta preto segundo a dona (Quem iria discordar pra apanhar?) com direito a um estilingue e pedras dentro para Marcos acertar na cabeça de quem fizesse a piadinha infame com o carro (Marcos tinha uma ótima mira quando estava acordado). Dentro do carro a mil por hora, passando pelos carros como se fosse uma moto, Vera estava no volante com a frigideira nas pernas e com cara de poucos amigos, disposta a brigar com qualquer um (A novidade era quando isso não acontecia) até que Marcos perguntou:

- Mãe, como a gente vai achar o meu pai? A senhora tem alguma ideia ou tá indo pela fé mesmo?
- Bem, eu sempre soube onde ele estava, só que isso não me importava muito, até agora... - Disse ela aumentando mais ainda a velocidade e isso ficando cada vez mais impossível de ser feito.
- Mas isso podia importar pra mim! Eu podia conhece-lo, visita-lo nos fins de semana, sei lá! qualquer droga dessas que pais fazem com filhos! - Marcos falou com um pequeno sentimento de revolta.
- Você não iria gostar dele, querido - Nunca um querido foi tão medonho e assustador quando esse, afinal Vera não gostava que se revoltasse com ela - Afinal, ele é igualzinho a você. A diferença é que ele só é lesado, não retardado mental.
- A senhora já pensou que essas coisas machucam? Já parou pra pensar que você está falando com seu filho e não com um cachorro? Já parou pra pensar o quanto a ausência do meu pai pode ter mudado a minha vida? - Marcos ia ficando cada vez mais irritado.
- Já parou pra pensar que eu que estou dirigindo? Já parou pra pensar que eu posso te mandar pra baixa da égua? Já parou pra pensar que é isso que eu vou fazer? - Vera deu uma freada brusca, abriu a porta e empurrou o filho para fora.
- Mas mãe, a senhora vai me deixar aqui desse jeito? - Disse ele sem entender absolutamente nada que estava acontecendo.
- Nada de "mas mãe"! Tu não estas muito longe de casa, tens dinheiro na carteira e eu não vou aguentar ladainhas no caminho, pode ir voltando pra casa que eu sigo o caminho com a sua irmã. - Vera fechou a porta, acelerou o carro, deixou um rastro de fumaça e um filho para trás.

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Mirian saia da escola animada conversando com algumas meninas, elas riam disfarçadamente para os rapazes que passavam, causando várias bochechas vermelhas e passos apressados. Até que chegou Tomás, (Não preciso nem dizer que esse é mais um daqueles clichês colegiais em que a garota gosta do garoto, só que morre de vergonha dele e pensa que ele nunca olha para ela e blá blá blá) então Mirian foi falar com ele, mesmo querendo não ir e olhando para o chão direto, enquanto as outras meninas continuavam rindo para os outros.

- Éeer... Tomás, você ainda vai querer ajuda em fatorial? - Disse ela pensando e repensando em cada palavra, pois um erro e era o fim de tudo.
- Ah sim, claro! Sou extremamente burro para essas coisas! - Ele riu e ela transbordou de alegria ao ver o seu sorriso - Quando podemos estudar? Pode ser hoje? É que eu tenho algumas coisas para resolver e só tenho tempo sobrando hoje...
- Pois então pronto! Pode ser hoje sim! Você vai almoçar onde? É bom que se a gente almoçar no mesmo lugar, não perde tanto tempo procurando um o outro depois - Riu feito uma mongoloide, porém isso era normal perto dele.
- Ótima ideia, vamos agora? - Falou com toda posse e voz que um galã de colégio clichê pode ter.

Mas de repente um carro parou da frente dos dois, um celta preto na verdade, a porta do passageiro foi aberta e apareceu Vera gritando do carro:

- Vamos Mirian! Entra nesse carro rápido!
- Mas mãe eu tô ocupada e vou... - Disse a envergonhada Mirian, vendo suas amigas rirem dela e olhando para um Tomás assustado com aquele carro que apareceu do nada.
- Não vai nada! Entra logo! - Olhou para Tomás - Rapaz, minha filha é doida por você, se quiser ela bem, se não quiser melhor porque ela pará de passar a madrugada fazendo corações com "T", agora entra nesse carro Mirian!

Mirian entrou correndo no carro, nunca mais olharia na cara de ninguém, quem sabe até mudaria de colégio, nunca mais veria seus amigos mas era um mal necessário, olhou para Vera com raiva e percebeu fogo nos olhos da mãe então tratou logo de disfarçar esse sentimento. Depois de um logo silêncio, a mãe foi a primeira a falar:

- Não fique com raiva de mim, aquilo foi para o seu bem e depois você entenderá, agora vou te explicar a situação...

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Marcos entrou numa lanchonete no caminho de volta para sua casa, ainda atordoado e sem entender o que aconteceu, foi ao balcão e pediu um café com leite, um senhor que estava ao seu lado ficou olhando para ele até que enfim disse:

- Café com leite é? Eu prefiro Leite com café!
  

Eu só

(Antes que pensem qualquer coisa, esse é só um personagem como qualquer outro meu. Não eu mesmo.)

Oi... 
       Estranho começar um texto assim, sem falar sobre o dia, o lugar, as horas, a aparência e etc... É porque não importa muito, não agora. Antes que perguntem, não eu não pretendendo nem tenho talento de mudar o mundo, muito menos descobri que faço parte de alguma sociedade oculta que me dá mega-hiper-super poderes e que eu estou destinado a derrotar um cara muito cruel que pessoas que treinam a muito tempo não conseguem deter, mas eu que descobri meu poderes ontem conseguirem ou coisa assim.
       Para falar a verdade eu sou bem tedioso, mudo de humor constantemente, tipo muito constantemente, acho que essa é minha característica marcante então já dá pra ver o nível da coisa. Agora é a hora do "O que diabos você faz aqui?", "Se não há nada de interessante, então pouco importa você!" e mais frases que frisam bem minha inutilidade na sociedade, mas o que eu faço aqui é tentar deixar você preso nesse texto até  o final, não custa nada além de tempo, que muito provavelmente seria gastado com outra tolice qualquer então qual a diferença?
       Sabe, eu poderia filosofar sobre a atual condição do ser humano, sobre o quão incrível o amor é, sobre o que eu comi ontem, sobre a politica ditatorial em países pobres, mas pouco me importa, sim pouco me importa o que acontece fora do meu mundo ou da minha noção do mesmo. Podem me chamar de alienado, de mente fechada, de porco capitalista, porém o fato é: Não é comigo, tanto faz. Acho que agora dá para entender o porque d'eu ser tedioso, quem parar algum dia e tentar conversar comigo sairá frustrado infelizmente, não que eu não tente mudar, é que é tão desinteressante!
        Pensem e vejam se eu não tenho razão, seres humanos são chatos! Vivem gritando aos quatros ventos que são diferentes, mas fazem as mesmas imbecilidades de todos, assim não tem como se interessar em socializar com eles. Se bem que agora eu percebi, escrevendo esse texto no auge de minha descrença nas relações humanas, estou tentando me socializar com vocês! Estou queimando minha língua justo aqui! Depois dessa acho que terminarei esse texto e continuarem observando a vida das pessoas, dizem que eu estou saindo perdendo por só observar e eu não acho isso, mas quem sabe eu queime a língua de novo não é? 
Até mais e quem sabe eu apareça por aqui novamente.      

Os Domingues - Parte 1


- Acordem vagabundos! - Gritou a doce dona de casa para seus filhos e vizinhos. (Vizinhos? Sim, quem seu grito poderoso não acordava era acordado pela sua batucada de panelas, deve se dizer que ela já foi até convidada para tocar na bateria de escola de samba!)

Que alegria, começa mais um dia feliz na casa dos Domingues! Como de costume, D. Vera estava na cozinha de manhã cedo...

- Dona o que?! Tá doido? Tenho nem quarenta anos e você me chama de dona? alias quem é você? sou muito nova pra estar escutando vozes!
- Fique quieta e me deixe contar a história, ora pitombas! - Disse eu, o incrível e brilhante narrador.

Mas continuando, Mirian, a filha mais nova, estava no quarto dormindo sentada de cara na sua mesa de estudos, babando em meio a folhas e folhas escritas com vários números. (A mãe jurava que ela estava estudando matemática ou alguma dessas matérias difíceis cheias de números, quando na verdade ela fazia teste de revistas para adolescentes) Já Marcos, o filho mais velho, estava acordado porém ainda não sabia disso pois estava de pé só que com os olhos fechados e se você se esforçasse um pouco poderia ouvir um ronco. Já o pai, bem o pai sumiu há muitos anos, "Ainda bem, aquele inútil não me serviu nem para fazer filhos" Diz a feliz D. Vera sempre que é questionada sobre esse assunto (Algumas pessoas dizem que foi a própria que expulsou o marido de casa).

- É a última vez que eu chamo vocês, se não aparecerem logo eu vou ligar para o chefe de cada um! - D. Vera alertou, só que gritava na janela, dez minutos depois várias pessoas saíram de suas casas, todas apressadas, desarrumadas e com pastas, mochilas, bolsas e afins.
- Obrigado D. Vera, mais um pouco e eu perco a condução - Disse um homem de farda que saia da casa da frente.
- D. Vera, mais um pouco e eu perco minha reunião de negócios - Disse um homem de terno que entrava em seu carro do ano.

E assim uma série de pessoas foram passando e agradecendo a uma janela, sim uma janela, porque Vera já estava de volta para a cozinha, fazia anos que ela acordava a todos (Uma frase muito conhecida da vizinhança era "Pra quê despertador se temos a Vera e suas panelas?") ela tinha começado com isso pois não aceitava o fato de acordar cedo para preparar as coisas para os filhos enquanto os outros dormiam, então pensou "Se eu acordo, todos acordam e ponto final!".

Mirian desceu as escadas correndo, de banho tomado e pronta para tomar café, enquanto isso Marcos tinha aberto os olhos, mas continuava imóvel (Algumas vezes sua mãe achava que ele tinha morrido ou sofrido um ataque de alguma doença que ninguém conhece).

- Mãe, vou comendo no caminho ok? Tenho que chegar cedo! - Disse Mirian quase na porta.
- Cadê seu irmão?
- Tá lá em cima ainda, naquele processo dele de acordar. Tchau. - Saiu tão rápido que parecia que tinha roubado alguma coisa.
- Quero saber se esse desocupado não vai arranjar um emprego nunca! - Disse Vera voltando aos seus afazeres.

O dia foi passado como sempre, Marcos perambulando pela casa, Vera fazendo as compras do dia, ai você pergunta: De onde vem o dinheiro da casa, se ninguém trabalha? (Vera era funcionaria pública, quebrou a unha e se aposentou por invalidez). Tudo ia bem, como sempre, a vida dos Domingues era bem monótona e chata, até que uma carta chegou por debaixo da porta, bem simples e quase que passava despercebida, só que Marcos a viu, a pegou, leu e não acreditou no que tinha lido. Quando sua mãe chegou, o viu com uma cara de enorme preocupação, e após um tempo processando a informação ele disse:

- Vão tomar a nossa casa, como isso aconteceu mãe?!
- Cacete! Sabia que tava esquecendo alguma coisa! A casa tava no nome e endereço do seu pai, e quando ele foi embora tudo que era no nome dele foi transferido, eu tinha esquecido da casa, que com certeza ele não pagou esse tempo todo!
- E agora mãe o que a gente vai fazer?

Vera foi andando até a cozinha, escolheu sua melhor frigideira, a mais nova, mais polida e mais brilhante, segurou firme, olhou para Marcos e disse:

- Vamos atrás do imprestável do seu pai, porque faz tempo que eu quero usar isso na cabeça dele!  
 



Suzana & Canã - Parte 3

Canã está deitado na cama, sem lanchonete, sem pessoas barulhentas, sem garçonete, sem Suzana, sem Canã. Bem, não o Canã que conhecemos e sim outro, mais jovem deitado em seu quarto. Roupas pelo chão, cama desarrumada, um cd do Los Hermanos jogado num canto, ele olhava para o cd.

- "Bloco do Eu Sozinho" - sorriu - "Até o título combina comigo." - Pensava enquanto ouvia as músicas do mesmo.

Ele se veste, iria viajar, espairecer, (E porque não esquecer?) afinal estava de férias, não que significasse alguma coisa porque férias para ele era igual a ficar enfurnado numa casa por muitos dias. Dessa vez era diferente, iria sair para um lugar distante, sem comunicação com os outros, apenas ele, sua família e o novo lugar.

- "Quase um retiro espiritual, quem sabe isso dá certo não é? Um momento de descanso da alma, longe de tudo e todos!" - Pensava esperançoso.

Na verdade, ele não via muito diferença em ficar em casa ou viajar, estaria sozinho do mesmo jeito. Seus amigos viviam suas vidas e se comunicar com alguém que chora pitangas direto não fazia parte delas, já tinham feito as suas partes e sabia que agora era só o tempo. E ele fez seu trabalho, Canã voltou melhor e até parecia ter sido trocado com outra pessoa, estava diferente e disposto a mudar ainda mais. Experimentava coisas, lugares, sensações, situações... (Tudo com consciência é claro, não seria burro de acabar com a vida por uma idiotice qualquer) Estava se tornando a pessoa que queria ser a muito tempo.

- "Tão diferente que até Suzana estranharia!" - Começou com esse pensamento, mas com o tempo nem lembrava dela, mesmo ouvindo o seu nome e a vendo em muitos lugares.

Ah, Suzana! Se ele ainda sofria por ela? Sofria, mas aprendeu a deixar esse sofrer embaixo de uma série de coisas e ansiedades, de vez em quando voltava e logo depois passava. Só que uma coisa ainda o ligava a ela, nunca teve a oportunidade de falar tudo que tinha a dizer e ouvir dela o mesmo, (Como se diz: Colocar os pingos nos i's) com Suzana aparentando ficar mais distante e si próprio cada vez menos se importando com essa história, foi levando a vida até que encontrou-a após um esbarrão...

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O silêncio se prolongou por algum tempo, Suzana sempre achou que fosse o motivo e tinha se preparado para se defender disso, mas para essa nova situação ela não estava preparada então só comeu antes que tudo esfriasse, Canã, após enxugar os olhos e levantar um pouco a cabeça, a viu e decidiu que seria melhor comer também. Depois de acabar perguntou:

- Você não tem nada a dizer?
- Queria dizer que sim... mas não, não tenho nada a dizer. - Ela disse um pouco envergonhada.
- E esse alface no seu dente, tem? - Disse rindo levemente.
- Seu besta! - Suzana riu e tirou o alface escondendo a boca.
- Nem sou! Bu!
- Agora, você me lembrou do Canã do colégio, que não deixava passar nada sem uma piada!

Os dois riram, riram mais um pouco e parecia que enfim tudo que tinha para ser falado foi. A garçonete de longe olhou e disse para o seu amigo imaginário:

- Casais, pf! Sempre as mesmas coisas e mongolices! Acredita que nesse instante estavam brigando?  
                          



Suzana & Canã - Parte 2

Suzana parou por um instante, olhou fixamente para Canã e de repente seu tom de voz mudou, ficou mais baixo e doce, de certa forma até meio tímido.

- Eu não achava, eu realmente gostava de você, sentia algo a mais ou seja lá como podemos chamar, só que eu percebi que não daria certo, sempre tinha algum problema, algum empecilho...
- Eu sei, mas o problema está ai! você percebeu que não daria certo mas não me deu chance de perceber isso, sempre falava ou fazia coisas que me faziam acreditar que teríamos chance, afinal era tudo tão confuso e complicado que daria certo!
- Mas essa não era a minha inten...- Suzana foi interrompida por algo que ela não achou que veria, Canã estava com lágrimas nos olhos e com uma aparência bem diferente daquele homem furioso com questões do passado.
- Sabe qual o grande problema disso tudo? Sabe porque eu fico remoendo essa história a todo instante? É porque eu não sei se no fim das contas eu te culpo ou se te agradeço, Droga! Eu sou tão ridículo!
- Co... Como assim?! - Suzana ficou surpresa e não conseguiu disfarçar isso no seu rosto - Canã, eu não estou entendendo nada!
- É que quando eu descobri tudo, eu sofri muito, passei noites em claro, chorei, comi a força, afinal eu te amava! E acredite eu posso dizer com todas as letras, se realmente um ser humano só ama 3 vezes na vida, uma eu já gastei com você...
- Eu continuo não entendendo...
- Bem, depois de um tempo eu percebi que sofrer não valia a pena, EU não merecia aquilo, então resolvi dar uma virada na minha vida e no fim das contas mudei, mudei para alguém muito melhor. Isso tudo por sua causa, mas ao mesmo tempo se tudo tivesse continuado do jeito que estava antes eu estaria muito feliz, não sei, é tudo tão confuso!

Quando Suzana iria abrir a boca para falar algo, a garçonete novamente apareceu do nada, trazendo consigo os cafés e os sanduíches e rebolou-os em cima da mesa, antes de ir embora percebeu o rosto de Canã.

- Casais vivem brigando por aqui, mas normalmente a mulher que chora. Cruzes, sua mocinha! Não fazem homens como antigamente... - E saiu falando sobre o caso para alguém (Talvez algum amigo imaginário ou algo do tipo, pois as pessoas do ambiente estavam muito preocupadas em suas conversas para prestar atenção no que aquela mulher dizia) Enquanto Canã olhava incrédulo para aquela mulher.
- É muito mal-amada mesmo uma mulher dessa! Depois fica se lamuriando pros outros dizendo que queria um homem romântico e blá blá blá, Você merece muito é uns tapas, sua infeliz! - Disse para a mulher (Que não escutou ou fingiu não escutar, era xingada por tanta gente naquele lugar que nem se importava.)
- Não liga para ela, Canã! - Suzana disse calmamente - Mas voltando ao nosso assunto, eu não sabia que você tinha passado por isso, quer dizer, eu perguntei se você estava bem e tu disseste que não estava mas eu não pensei que era tanto!
- Não me surpreende! O que me deixava mais abatido era isso, Suzana! Você nunca aparentar se importar em como eu estava, parecia que eu tinha sumido da sua vida e então eu resolvi fazer o mesmo! - E então o raivoso Canã estava de volta e a todo vapor, porém com os olhos vermelhos. (O que o fazia parecer um drogado se não fosse as lágrimas, é fato.)
- Epa, isso nunca foi verdade! Eu me preocupei com você, mas eu tinha medo de perguntar, achava melhor te dar espaço, afinal eu só iria te atrapalhar mais se ficasse por perto. - Suzana se elevou um pouco, mas percebeu que aquilo só pioraria a situação.
- Não sei se acredito nisso, quem me garante que você está me dizendo isso porque ficou com pena depois de saber como eu fiquei?
- Acredita em mim, Canã! Deixa de ser cabeça dura! Não foi só você que sofreu com isso, sabia? Nossos amigos que sabiam de tudo ficaram todos contra mim, eu também sofri com essa história! - Suzana não aguentou mais tentar ser paciente, pegou suas coisas e quando já ia se levantar ouviu de Canã.
- Eu sei disso, mas a diferença é que tu tinhas alguém como porto seguro no fim de tudo, alguém pra gostar, pra passar os bons momentos, pra falar sobre o teu dia do jeito que a gente fazia... e eu? eu só tive eu mesmo e meus pensamentos, muitos deles com você presente, na verdade...

E então nos momentos seguintes imperou um silêncio, Suzana colocou suas coisas onde estavam e começou a entender o que na verdade acontecia, Canã não tinha raiva dela, nem do seu namorado na época em que tudo aconteceu, nem dele mesmo. Ele tinha na verdade raiva da solidão que lhe foi imposta de uma hora pra outra, quando ela lhe fez a revelação de que tudo que ele sonhara e pensara não aconteceria, pois tinha arranjado outra pessoa para compartilhar seu coração...

    

Suzana & Canã - Parte 1

Numa tarde como qualquer outra, num dia como qualquer outro, onde sol estava lá no alto esquentando a cabeça de todos e que as pessoas andam apressadas para os seus afazeres, "Enfim um dia como qualquer outro" era o que eles pensavam, mas não era um dia assim. Hoje era um dia diferente, um dia que tão cedo eles esqueceriam, o dia em que se encontrariam novamente. Quem são eles? Ora, toda história tem que começar dando nome aos bois não é mesmo? Pois bem, seus nomes são Suzana e Canã. E na tal tarde citada no começo, entre todas as pessoas que andam apressadas, eles foram justamente se esbarrar um no outro. Sabe, eles poderia simplesmente pedir desculpas pelo esbarrão (Ou não pedir, afinal as pessoas são tão mal educadas hoje em dia) e seguir o seu caminho, fazia tanto tempo que não se viam que não lembravam do outro, alias não queria lembrar, mas quis o destino ou o cérebro maroto (Tirem suas conclusões) que em um rápido lampejo eles lembraram. E como lembraram.

- Suzana? - Ele disse não acreditando no que via.
- Sim, de onde você me.. Não, você é o Canã não é?
- Sou eu sim, quanto tempo! Faz uns 6,7 anos...
- Pois é! E você, como vai?
- Vou muito bem, obrigado! Apesar de tudo que você fez...- Disse ele em um tom irônico percebível a quilômetros de distância. - Mas e você, como vai? - Quando Suzana se preparava para falar, ele a interrompeu. - Espera, já que estamos aqui mesmo, que tal tomarmos um café?
- Vou bem também! Pode ser, aquele lugar parece bom... - Ela falou meio desconcertada, apontando para um prédio velho porém aprazível.

Enquanto tinham essa conversa, meio desajeitadamente, como se preferissem estar em qualquer lugar que não ali, foram entrando em uma lanchonete e sentando numa mesa no canto do lugar, lugar esse bem propicio para a discussão que seguiria, um lugar barulhento onde poderiam conversar e ninguém se importaria com nada falado ali. (A não ser que alguém fosse esfaqueado, ai as pessoas esticariam a cabeça para olhar, mas só isso.)

- Continuando, não vamos falar sobre esse assunto pois como você mesmo disse já passou muito tempo e nós éramos só adolescentes... - Suzana estava querendo mudar de assunto, mesmo sabendo que aquilo era inevitável.
- Você não quer falar sobre isso por que passou  muito tempo ou por que não quer lembrar o quanto você me enganou?
- Pelo amor de Deus, Canã! Eu não queria te enganar, alias eu só não te disse logo porque eu não queria te machucar!
- Parabéns, você é péssima em alcançar seus objetivos!
- Você também, fica ai se fazendo de vítima, de santo, como se nunca tivesse feito isso com ninguém! - Suzana se exaltara, mas para aquele lugar tão barulhento, não era mais que uma conversa normal.
- Fiz sim, como todo mundo, mas ao contrário de você eu não passei 5 meses enganando essa pessoa, escondendo o que pudesse faze-la descobrir, nem falando nem deixando as outras falarem, traindo essa pessoa! - Canã se exaltava mais ainda que Suzana.
- Já te disse que não foi nada disso, isso foi história daquele povo e...
- O que vão querer? - Eis que chegou a salvadora da pátria, a ganhadora do prêmio Nobel da Paz, a incrível e sempre mal-humorada garçonete (Que não nos importa o nome nessa história).

Os dois olharam surpresos e confusos para aquela mulher que apareceu com um caderno na mão sorrateiramente, na verdade estavam tão concentrados na sua conversa que não notaram quando ela chegou.

- Ah... sim... pedido? - Canã perguntou ainda confuso com aquela estranha mulher.
- É, pedido. Aquele negócio em que você dizem o querem comer, eu finjo que anoto, falo pro cozinheiro e o motivo de vocês terem entrado aqui. Porque até onde eu sei ainda não contrataram gente para esquentar os bancos.
Suzana se adiantou: - Um café e um sanduíche natural para nós dois, por favor. Tudo bem? - Olhou para Canã que assentiu com a cabeça.

A garçonete saiu a passos lentos, deixando mais que claro que só fazia aquilo por obrigação e que estava mais do que entediada daquilo, e enquanto isso os dois na mesa já se olhavam como se estivessem prontos para começar o segundo round.

Mais uma vez Suzana começou logo a falar - Como eu ia dizendo, aquilo foi história daquelas pessoas! Foi no máximo um mês e não aconteceu nada demais!
- Não aconteceu nada demais tantas vezes que assim que eu descobri tudo vocês começaram a namorar...
- Pará com isso, parece até que voltamos no tempo! Tudo do mesmo jeito de 6 anos atrás, você me acusando de mil coisas e se fazendo de vítima!
- Se fazendo de vítima nada, eu sei que errei, demorei demais pra lutar pela gente, me importei demais com a opinião alheia, mas eu queria pelo menos um pouco de consideração! Um "Ei, cansei de esperar, me arranjei com outro aqui!" e não um "Continuei minha vida, mas vou fingir que ainda estou esperando, tá certo?"
- Se te faz ficar menos revoltado, eu terminei com ele a muito tempo!
- Obrigado mas não faz! Com ele ou sem ele a merda já foi feita! E eu perdi tempo demais da minha vida com isso!
- E você quer que eu faça o que? Te peça desculpa pelo seu precioso tempo perdido?! Me poupe!
- É, realmente foi um grande tempo perdido com uma pessoa como você!
- Eu nunca pedi pra você gostar de mim!
- Então nunca tivesse me dito que sentia o mesmo quando na verdade você só achava que era isso!

E como Suzana havia dito, parecia que eles tinha voltado para 6 anos atras e naquela tarde como qualquer outra, naquele dia como qualquer outro, naquela lanchonete barulhenta, o jovem Canã e a jovem Suzana teriam a conversa que deveriam ter tido a 6 anos...