Suzana & Canã - Parte 2

Suzana parou por um instante, olhou fixamente para Canã e de repente seu tom de voz mudou, ficou mais baixo e doce, de certa forma até meio tímido.

- Eu não achava, eu realmente gostava de você, sentia algo a mais ou seja lá como podemos chamar, só que eu percebi que não daria certo, sempre tinha algum problema, algum empecilho...
- Eu sei, mas o problema está ai! você percebeu que não daria certo mas não me deu chance de perceber isso, sempre falava ou fazia coisas que me faziam acreditar que teríamos chance, afinal era tudo tão confuso e complicado que daria certo!
- Mas essa não era a minha inten...- Suzana foi interrompida por algo que ela não achou que veria, Canã estava com lágrimas nos olhos e com uma aparência bem diferente daquele homem furioso com questões do passado.
- Sabe qual o grande problema disso tudo? Sabe porque eu fico remoendo essa história a todo instante? É porque eu não sei se no fim das contas eu te culpo ou se te agradeço, Droga! Eu sou tão ridículo!
- Co... Como assim?! - Suzana ficou surpresa e não conseguiu disfarçar isso no seu rosto - Canã, eu não estou entendendo nada!
- É que quando eu descobri tudo, eu sofri muito, passei noites em claro, chorei, comi a força, afinal eu te amava! E acredite eu posso dizer com todas as letras, se realmente um ser humano só ama 3 vezes na vida, uma eu já gastei com você...
- Eu continuo não entendendo...
- Bem, depois de um tempo eu percebi que sofrer não valia a pena, EU não merecia aquilo, então resolvi dar uma virada na minha vida e no fim das contas mudei, mudei para alguém muito melhor. Isso tudo por sua causa, mas ao mesmo tempo se tudo tivesse continuado do jeito que estava antes eu estaria muito feliz, não sei, é tudo tão confuso!

Quando Suzana iria abrir a boca para falar algo, a garçonete novamente apareceu do nada, trazendo consigo os cafés e os sanduíches e rebolou-os em cima da mesa, antes de ir embora percebeu o rosto de Canã.

- Casais vivem brigando por aqui, mas normalmente a mulher que chora. Cruzes, sua mocinha! Não fazem homens como antigamente... - E saiu falando sobre o caso para alguém (Talvez algum amigo imaginário ou algo do tipo, pois as pessoas do ambiente estavam muito preocupadas em suas conversas para prestar atenção no que aquela mulher dizia) Enquanto Canã olhava incrédulo para aquela mulher.
- É muito mal-amada mesmo uma mulher dessa! Depois fica se lamuriando pros outros dizendo que queria um homem romântico e blá blá blá, Você merece muito é uns tapas, sua infeliz! - Disse para a mulher (Que não escutou ou fingiu não escutar, era xingada por tanta gente naquele lugar que nem se importava.)
- Não liga para ela, Canã! - Suzana disse calmamente - Mas voltando ao nosso assunto, eu não sabia que você tinha passado por isso, quer dizer, eu perguntei se você estava bem e tu disseste que não estava mas eu não pensei que era tanto!
- Não me surpreende! O que me deixava mais abatido era isso, Suzana! Você nunca aparentar se importar em como eu estava, parecia que eu tinha sumido da sua vida e então eu resolvi fazer o mesmo! - E então o raivoso Canã estava de volta e a todo vapor, porém com os olhos vermelhos. (O que o fazia parecer um drogado se não fosse as lágrimas, é fato.)
- Epa, isso nunca foi verdade! Eu me preocupei com você, mas eu tinha medo de perguntar, achava melhor te dar espaço, afinal eu só iria te atrapalhar mais se ficasse por perto. - Suzana se elevou um pouco, mas percebeu que aquilo só pioraria a situação.
- Não sei se acredito nisso, quem me garante que você está me dizendo isso porque ficou com pena depois de saber como eu fiquei?
- Acredita em mim, Canã! Deixa de ser cabeça dura! Não foi só você que sofreu com isso, sabia? Nossos amigos que sabiam de tudo ficaram todos contra mim, eu também sofri com essa história! - Suzana não aguentou mais tentar ser paciente, pegou suas coisas e quando já ia se levantar ouviu de Canã.
- Eu sei disso, mas a diferença é que tu tinhas alguém como porto seguro no fim de tudo, alguém pra gostar, pra passar os bons momentos, pra falar sobre o teu dia do jeito que a gente fazia... e eu? eu só tive eu mesmo e meus pensamentos, muitos deles com você presente, na verdade...

E então nos momentos seguintes imperou um silêncio, Suzana colocou suas coisas onde estavam e começou a entender o que na verdade acontecia, Canã não tinha raiva dela, nem do seu namorado na época em que tudo aconteceu, nem dele mesmo. Ele tinha na verdade raiva da solidão que lhe foi imposta de uma hora pra outra, quando ela lhe fez a revelação de que tudo que ele sonhara e pensara não aconteceria, pois tinha arranjado outra pessoa para compartilhar seu coração...

    

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