Suzana & Canã - Parte 4

As lágrimas tinham se transformado em risos, e a discussão em uma conversa bem divertida. Ele falava sobre faculdade de publicidade e ela sobre a de química, sobre como o tempo tinha melhorado os dois (Claro que qualquer pessoa sem espinhas no rosto fica muito melhor, isso é óbvio) e Suzana pensou que tudo enfim tinha ficado bem, do jeito que ela sempre quis. Ela tinha feito tudo o que fez, demorado para falar com ele, escondido tudo porque tinha medo de perde-lo, pois ela o considerava uma daquelas pessoas que todo mundo precisa ter perto para o seu bem, alguém que escuta tudo que você diz, que ri das suas besteiras, um amigo. Canã era ótimo nisso, (Pelo menos era o que diziam naquela época) mas desde o dia em que tudo veio a tona ela tinha perdido esse Canã, só conhecia um Canã que não a olhava e que quando fazia isso era com desprezo, tristeza e não era o único.

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Finalmente chegara a segunda-feira, depois de um fim de semana de espera Suzana veria como seriam as coisas daqui para frente. Canã não havia chegado, "Será que ele vem?" - Pensou ela. Ele chegou, sentou, falou com todos que sempre falava, quer dizer todos menos uma. "Então vai ser assim?" - Pensou novamente. As horas foram se passando dentro daquela sala em que as cadeiras entre eles, com pessoas sentadas nelas ou não, pareciam na verdade um abismo tamanha a distância. Ela percebia olhares, falatórios, sabia que naquela história, fosse qual fosse a versão contada, sairia como a pessoa ruim e insensível.

- Tudo bem, eu aceito isso. Sei o que fiz e não vejo culpa nisso, isso é muito comum e não um bicho de sete cabeças, falar por falar, sempre vai haver motivos para falarem de mim.- Tentava se convencer disso e a frieza de Canã a fazia cada vez mais ligar menos para isso. "Mas e Canã? Com toda essa armadura por cima dele, como será que ele está?" Pensava sobre isso, só que via que não teria respostas então desistia.

Com o tempo eles voltaram a se falar, pouco mas voltaram, de vez em quando mandavam mensagens como nos velhos tempos, escondidos de si mesmos, mas logo que percebiam a situação paravam e voltavam a distância e as conversas monossilábicas sobre dúvidas do colégio que tinham. Os amigos também voltaram a falar com os dois, um de cada vez, pois com os dois juntos sempre rondava um clima estranho que ninguém gostava. Assim eles levaram até que se formaram, até que foram para a faculdade, até que se esbarraram num dia qualquer...

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- Sei que é meio indiscreto, mas quando você terminou com ele? (O nome da pessoa em questão não nos importa, então não será dito) - Canã aproveitou o momento de descontração para fazer essa pergunta.
- Na verdade, eu casei com ele...- Suzana falou de canto de boca, quase sussurando, de forma que Canã se esforçou para escutar.
- Ah! Mas você falou que tinha terminado com ele a tempos... ai eu pensei que... - Disse ele meio desapontado.
- É uma história que não vem ao caso agora, eu tenho uma filha linda quer vê-la? (Para as mães, os filhos sempre são lindos então imagine a filha de Suzana como quiser.)
-  Sério?! Que legal! Se for pelo menos um terço da mãe deve ser linda mesmo!  

Ela riu envergonhada enquanto buscava a foto de sua filha, depois de um tempo achou e mostrou para Canã. 

- Que fofa, tem quantos anos? três, quatro? Tem cara de ser bem sapeca!
- Ela tem três e é bem sapeca mesmo! - Disse rindo - Chega de falar de mim e você? Namorando, casado, enrolado?
- Estou tendo uns negócios ai, um namoro ou algo assim, não sei bem explicar o que é! - riu desengonçadamente.
- Acontece isso as vezes! - Suzana falou rindo escondendo um pouco o desapontamento.
- Sabe, até que foi bom te reencontrar, foi totalmente diferente do que eu pensava!
- Total! Também gostei muito, acho que a gente devia continuar em contato.

Canã concordou com a cabeça e eles deram seus números, "Quem sabe não me ligaria mais tarde?" pensavam os dois, então Suzana acenou para a garçonete pedindo a conta e ela veio com sua alegria de sempre.

- Finalmente vocês vão sair, cansei de ver a cara dos dois aqui, pensei que nunca sairiam! - Disse ela procurando nos papéis a conta.
- Não se preocupe, eu também cansei de ver a sua cara e espero não vê-la mais. - Canã falou, ainda com raiva pelo o que a garçonete tinha lhe falado mais cedo.
- Que é isso vocês dois?! Nada disso, vamos nos ver aqui sim, afinal esse canto vai ficar marcado não é? Pelo menos eu virei aqui muitas vezes! - Suzana disse isso e com isso apaziguou a situação.
- Contanto que vocês não passei três horas aqui de novo... - Disse a garçonete enquanto ia embora com o dinheiro recém adquirido com muito esforço da parte dela em aguentar aqueles dois.

Os dois se levantaram, foram até a entrada do lugar e se viraram um para o outro.

- Então é isso né? Espero te encontrar de novo por ai! - Suzana falou ajeitando a foto de sua filha na bolsa.
- Pois é, e que seja logo de preferência! Até a próxima!

Canã se virou para um lado e Suzana para outro, seguiriam seus determinados caminhos que faziam antes do esbarrão, quem sabe se encontrariam de novo? Afinal ainda haviam coisas a serem ditas, como o fato de Suzana ser viúva, ou de que Canã havia terminado com a namorada e estava irritado naquele dia, por isso tanta agressividade. Talvez ligassem um para o outro, talvez o destino e o acaso dessem uma forcinha novamente, pelo menos era o que eles esperavam...               

1 comentários:

Iury Figueiredo disse...

Ja estou virando fã desses dois, e tô ansioso pela próxima parte.

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