Os Domingues - Parte 2

Vera e Marcos correm para o carro, um belíssimo celta preto segundo a dona (Quem iria discordar pra apanhar?) com direito a um estilingue e pedras dentro para Marcos acertar na cabeça de quem fizesse a piadinha infame com o carro (Marcos tinha uma ótima mira quando estava acordado). Dentro do carro a mil por hora, passando pelos carros como se fosse uma moto, Vera estava no volante com a frigideira nas pernas e com cara de poucos amigos, disposta a brigar com qualquer um (A novidade era quando isso não acontecia) até que Marcos perguntou:

- Mãe, como a gente vai achar o meu pai? A senhora tem alguma ideia ou tá indo pela fé mesmo?
- Bem, eu sempre soube onde ele estava, só que isso não me importava muito, até agora... - Disse ela aumentando mais ainda a velocidade e isso ficando cada vez mais impossível de ser feito.
- Mas isso podia importar pra mim! Eu podia conhece-lo, visita-lo nos fins de semana, sei lá! qualquer droga dessas que pais fazem com filhos! - Marcos falou com um pequeno sentimento de revolta.
- Você não iria gostar dele, querido - Nunca um querido foi tão medonho e assustador quando esse, afinal Vera não gostava que se revoltasse com ela - Afinal, ele é igualzinho a você. A diferença é que ele só é lesado, não retardado mental.
- A senhora já pensou que essas coisas machucam? Já parou pra pensar que você está falando com seu filho e não com um cachorro? Já parou pra pensar o quanto a ausência do meu pai pode ter mudado a minha vida? - Marcos ia ficando cada vez mais irritado.
- Já parou pra pensar que eu que estou dirigindo? Já parou pra pensar que eu posso te mandar pra baixa da égua? Já parou pra pensar que é isso que eu vou fazer? - Vera deu uma freada brusca, abriu a porta e empurrou o filho para fora.
- Mas mãe, a senhora vai me deixar aqui desse jeito? - Disse ele sem entender absolutamente nada que estava acontecendo.
- Nada de "mas mãe"! Tu não estas muito longe de casa, tens dinheiro na carteira e eu não vou aguentar ladainhas no caminho, pode ir voltando pra casa que eu sigo o caminho com a sua irmã. - Vera fechou a porta, acelerou o carro, deixou um rastro de fumaça e um filho para trás.

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Mirian saia da escola animada conversando com algumas meninas, elas riam disfarçadamente para os rapazes que passavam, causando várias bochechas vermelhas e passos apressados. Até que chegou Tomás, (Não preciso nem dizer que esse é mais um daqueles clichês colegiais em que a garota gosta do garoto, só que morre de vergonha dele e pensa que ele nunca olha para ela e blá blá blá) então Mirian foi falar com ele, mesmo querendo não ir e olhando para o chão direto, enquanto as outras meninas continuavam rindo para os outros.

- Éeer... Tomás, você ainda vai querer ajuda em fatorial? - Disse ela pensando e repensando em cada palavra, pois um erro e era o fim de tudo.
- Ah sim, claro! Sou extremamente burro para essas coisas! - Ele riu e ela transbordou de alegria ao ver o seu sorriso - Quando podemos estudar? Pode ser hoje? É que eu tenho algumas coisas para resolver e só tenho tempo sobrando hoje...
- Pois então pronto! Pode ser hoje sim! Você vai almoçar onde? É bom que se a gente almoçar no mesmo lugar, não perde tanto tempo procurando um o outro depois - Riu feito uma mongoloide, porém isso era normal perto dele.
- Ótima ideia, vamos agora? - Falou com toda posse e voz que um galã de colégio clichê pode ter.

Mas de repente um carro parou da frente dos dois, um celta preto na verdade, a porta do passageiro foi aberta e apareceu Vera gritando do carro:

- Vamos Mirian! Entra nesse carro rápido!
- Mas mãe eu tô ocupada e vou... - Disse a envergonhada Mirian, vendo suas amigas rirem dela e olhando para um Tomás assustado com aquele carro que apareceu do nada.
- Não vai nada! Entra logo! - Olhou para Tomás - Rapaz, minha filha é doida por você, se quiser ela bem, se não quiser melhor porque ela pará de passar a madrugada fazendo corações com "T", agora entra nesse carro Mirian!

Mirian entrou correndo no carro, nunca mais olharia na cara de ninguém, quem sabe até mudaria de colégio, nunca mais veria seus amigos mas era um mal necessário, olhou para Vera com raiva e percebeu fogo nos olhos da mãe então tratou logo de disfarçar esse sentimento. Depois de um logo silêncio, a mãe foi a primeira a falar:

- Não fique com raiva de mim, aquilo foi para o seu bem e depois você entenderá, agora vou te explicar a situação...

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Marcos entrou numa lanchonete no caminho de volta para sua casa, ainda atordoado e sem entender o que aconteceu, foi ao balcão e pediu um café com leite, um senhor que estava ao seu lado ficou olhando para ele até que enfim disse:

- Café com leite é? Eu prefiro Leite com café!
  

Eu só

(Antes que pensem qualquer coisa, esse é só um personagem como qualquer outro meu. Não eu mesmo.)

Oi... 
       Estranho começar um texto assim, sem falar sobre o dia, o lugar, as horas, a aparência e etc... É porque não importa muito, não agora. Antes que perguntem, não eu não pretendendo nem tenho talento de mudar o mundo, muito menos descobri que faço parte de alguma sociedade oculta que me dá mega-hiper-super poderes e que eu estou destinado a derrotar um cara muito cruel que pessoas que treinam a muito tempo não conseguem deter, mas eu que descobri meu poderes ontem conseguirem ou coisa assim.
       Para falar a verdade eu sou bem tedioso, mudo de humor constantemente, tipo muito constantemente, acho que essa é minha característica marcante então já dá pra ver o nível da coisa. Agora é a hora do "O que diabos você faz aqui?", "Se não há nada de interessante, então pouco importa você!" e mais frases que frisam bem minha inutilidade na sociedade, mas o que eu faço aqui é tentar deixar você preso nesse texto até  o final, não custa nada além de tempo, que muito provavelmente seria gastado com outra tolice qualquer então qual a diferença?
       Sabe, eu poderia filosofar sobre a atual condição do ser humano, sobre o quão incrível o amor é, sobre o que eu comi ontem, sobre a politica ditatorial em países pobres, mas pouco me importa, sim pouco me importa o que acontece fora do meu mundo ou da minha noção do mesmo. Podem me chamar de alienado, de mente fechada, de porco capitalista, porém o fato é: Não é comigo, tanto faz. Acho que agora dá para entender o porque d'eu ser tedioso, quem parar algum dia e tentar conversar comigo sairá frustrado infelizmente, não que eu não tente mudar, é que é tão desinteressante!
        Pensem e vejam se eu não tenho razão, seres humanos são chatos! Vivem gritando aos quatros ventos que são diferentes, mas fazem as mesmas imbecilidades de todos, assim não tem como se interessar em socializar com eles. Se bem que agora eu percebi, escrevendo esse texto no auge de minha descrença nas relações humanas, estou tentando me socializar com vocês! Estou queimando minha língua justo aqui! Depois dessa acho que terminarei esse texto e continuarem observando a vida das pessoas, dizem que eu estou saindo perdendo por só observar e eu não acho isso, mas quem sabe eu queime a língua de novo não é? 
Até mais e quem sabe eu apareça por aqui novamente.      

Os Domingues - Parte 1


- Acordem vagabundos! - Gritou a doce dona de casa para seus filhos e vizinhos. (Vizinhos? Sim, quem seu grito poderoso não acordava era acordado pela sua batucada de panelas, deve se dizer que ela já foi até convidada para tocar na bateria de escola de samba!)

Que alegria, começa mais um dia feliz na casa dos Domingues! Como de costume, D. Vera estava na cozinha de manhã cedo...

- Dona o que?! Tá doido? Tenho nem quarenta anos e você me chama de dona? alias quem é você? sou muito nova pra estar escutando vozes!
- Fique quieta e me deixe contar a história, ora pitombas! - Disse eu, o incrível e brilhante narrador.

Mas continuando, Mirian, a filha mais nova, estava no quarto dormindo sentada de cara na sua mesa de estudos, babando em meio a folhas e folhas escritas com vários números. (A mãe jurava que ela estava estudando matemática ou alguma dessas matérias difíceis cheias de números, quando na verdade ela fazia teste de revistas para adolescentes) Já Marcos, o filho mais velho, estava acordado porém ainda não sabia disso pois estava de pé só que com os olhos fechados e se você se esforçasse um pouco poderia ouvir um ronco. Já o pai, bem o pai sumiu há muitos anos, "Ainda bem, aquele inútil não me serviu nem para fazer filhos" Diz a feliz D. Vera sempre que é questionada sobre esse assunto (Algumas pessoas dizem que foi a própria que expulsou o marido de casa).

- É a última vez que eu chamo vocês, se não aparecerem logo eu vou ligar para o chefe de cada um! - D. Vera alertou, só que gritava na janela, dez minutos depois várias pessoas saíram de suas casas, todas apressadas, desarrumadas e com pastas, mochilas, bolsas e afins.
- Obrigado D. Vera, mais um pouco e eu perco a condução - Disse um homem de farda que saia da casa da frente.
- D. Vera, mais um pouco e eu perco minha reunião de negócios - Disse um homem de terno que entrava em seu carro do ano.

E assim uma série de pessoas foram passando e agradecendo a uma janela, sim uma janela, porque Vera já estava de volta para a cozinha, fazia anos que ela acordava a todos (Uma frase muito conhecida da vizinhança era "Pra quê despertador se temos a Vera e suas panelas?") ela tinha começado com isso pois não aceitava o fato de acordar cedo para preparar as coisas para os filhos enquanto os outros dormiam, então pensou "Se eu acordo, todos acordam e ponto final!".

Mirian desceu as escadas correndo, de banho tomado e pronta para tomar café, enquanto isso Marcos tinha aberto os olhos, mas continuava imóvel (Algumas vezes sua mãe achava que ele tinha morrido ou sofrido um ataque de alguma doença que ninguém conhece).

- Mãe, vou comendo no caminho ok? Tenho que chegar cedo! - Disse Mirian quase na porta.
- Cadê seu irmão?
- Tá lá em cima ainda, naquele processo dele de acordar. Tchau. - Saiu tão rápido que parecia que tinha roubado alguma coisa.
- Quero saber se esse desocupado não vai arranjar um emprego nunca! - Disse Vera voltando aos seus afazeres.

O dia foi passado como sempre, Marcos perambulando pela casa, Vera fazendo as compras do dia, ai você pergunta: De onde vem o dinheiro da casa, se ninguém trabalha? (Vera era funcionaria pública, quebrou a unha e se aposentou por invalidez). Tudo ia bem, como sempre, a vida dos Domingues era bem monótona e chata, até que uma carta chegou por debaixo da porta, bem simples e quase que passava despercebida, só que Marcos a viu, a pegou, leu e não acreditou no que tinha lido. Quando sua mãe chegou, o viu com uma cara de enorme preocupação, e após um tempo processando a informação ele disse:

- Vão tomar a nossa casa, como isso aconteceu mãe?!
- Cacete! Sabia que tava esquecendo alguma coisa! A casa tava no nome e endereço do seu pai, e quando ele foi embora tudo que era no nome dele foi transferido, eu tinha esquecido da casa, que com certeza ele não pagou esse tempo todo!
- E agora mãe o que a gente vai fazer?

Vera foi andando até a cozinha, escolheu sua melhor frigideira, a mais nova, mais polida e mais brilhante, segurou firme, olhou para Marcos e disse:

- Vamos atrás do imprestável do seu pai, porque faz tempo que eu quero usar isso na cabeça dele!